terça-feira, 1 de dezembro de 2015
Quem foi Aurimar Monteiro de Araújo?
Mestre Ari mantinha projetos de música para jovens de Bragança
Aurimar Monteiro de Araújo, Mestre Ari, tinha 78 anos e era reconhecido como o mais importante fazedor de rabecas na Amazônia. A sua morte, na tarde de ontem, deixa uma lacuna irreparável na cultura paraense: de um homem que não só contribuiu para o resgate desse instrumento tão importante para a cultura popular no Pará, mas também para disseminar a arte como transformação social para diversas crianças e adolescentes de Bragança, nordeste do estado.
“Ele foi o responsável pela rabeca da Marujada não ter desaparecido. Ele aprendeu como se fazia o instrumento e o disseminou ensinando para crianças e construindo para vender ao artistas. Era um homem sábio que, de forma voluntária disseminou a cultura paraense”, disse, emocionado, Aurimar Silva Araújo, filho do mestre.
O artista estava internado com insuficiência respiratória e isquemia em um hospital em Braganca, desde segunda-feira (09), em decorrência da Esclerose Lateral Amiotrófica, doença com que o afligia há seis anos.
Para o filho, a perda de Mestre Ari é mais que uma dor familiar e traz consigo uma dúvida quanto à continuidade do trabalho do pai, que era um referencial na luta pela cultura popular, usando a arte musical como meio de transformação social na vida de crianças, adolescentes e jovens carentes ou em situação de vulnerabilidade social, com a Associação Bragantina de Música e o Instituto de Artes Aurimar Monteiro de Araújo (Instituto Ama), fundado há mais de 11 anos e que atende a mais de 800 crianças e adolescentes da cidade
“Fazemos este trabalho sem ajuda pública e quando passar esse momento teremos que reunir para saber como vamos continuar este projeto tão importante, já que era mantido pela aposentadoria do meu pai e também com a comercialização de instrumentos produzidos por ele e recursos vindos de doações”, diz o filho.
Mestre Ari foi também o idealizador dos projetos Sons do Caeté e Multiplicando a Música Brasileira na Amazônia, pioneiros no nordeste paraense, que propiciaram o ensino musical e a formação cidadã de mais de 3,4 mil crianças, adolescentes e jovens. Foi o criador da Orquestra de Rabecas da Amazônia, Grupo de Rabecas de Bragança, da Banda Musical Sons do Caeté, da Lira Bragantina, da Oficina Escola de Lutheria de Braganca e do Liceu de Artes do Instituto Ama.
Com seu trabalho cultural e social, seus projetos receberam diversos prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio Cultura Viva e Prêmio Culturas Populares, ambos concedidos pelo Ministério da Cultura, além de ter recebido apoio da Unesco.
Mestre Ari recebeu título de Honra ao Mérito pela Assembleia Legislativa do Pará, a menção honrosa da Unesco, através do Prêmio Kelog AméricaLatina e Caribe e, ano passado, teve seu nome entre as personalidades brasileiras para receber a Comenda Chico Xavier, o mais elevado título honorífico concedido pelo estado de Minas Gerais.
Para o músico Júnior Soares, do Arraial do Pavulagem, Mestre Ari era uma raridade que ele conheceu há 12 anos durante um trabalho de pesquisa em que estudou o uso da rabeca na Marujada e na região bragantina.
“Tivemos a honra de conhecer tanto seu Bené Brito quanto Mestre Ari durante essa pesquisa e ambos eram muito importantes, pois eram dos raros fazedores deste instrumento. Me chamou atenção que o Mestre Ari tinha uma preocupação estética com o que produzia, um cuidado especial. Ele fazia rabecas de formatos diferentes, era um verdadeiro estudioso”, diz o músico.
Júnior elogia o trabalho do Instituto Ama e diz que é muito importante que essa disseminação da arte de fazer o instrumento continue. “Mestre Ari era muito solidário e tinha essa coisa de dividir o que sabe com as pessoas e por isso seu trabalho era tão especial. Espero que sua partida não seja uma perda para esse processo de ensinar a fabricar o instrumento. Sei que hoje, em Bragança, muita gente toca a rabeca, mas não sei quantos conseguiram aprender a construir o instrumento como ele fazia”, pontua.
Mestre Ari nasceu em Luís Domingues, no Maranhão, mas adotou a cidade de Bragança para viver e constituir família. Foi lá que o mestre das rabecas desembarcou na Antiga Estação Ferroviária, aos 18 anos, no dia 26 de dezembro de 1954, exatamente o dia em que se comemora a Festividade da Marujada de São Benedito.
(Diário do Pará)
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